(Sermão Nº 167)
Pregado na manhã de Sabath, 13 de dezembro de 1857. Por C. H. Spurgeon. No Music Hall, Royal Surrey Gardens.
“Estes são os que a si mesmos se separam, sensuais, que não têm o Espírito.” (Judas 1:19)
QUANDO um fazendeiro vem a debulhar o seu trigo e deixá-lo pronto para o mercado, há duas coisas que ele deseja — que possa haver muito disso, do tipo certo — e que quando ele o leve para o mercado, ele seja capaz de transportar uma amostra pura para lá. Ele não olha apenas a quantidade, pois o que tem a palha com o trigo? Ele prefere ter um pouco de tipo puro do que ter uma enorme pilha contendo uma grande quantidade de palha, porém pouco do milho precioso. Por outro lado, ele não joeiraria assim o seu trigo de forma a afastar qualquer um dos bons grãos e assim fazer a quantidade inferior ao que precisa ser. Ele quer ter, tanto quanto possível, a menor perda possível no joeirar e ainda tê-lo tão bem peneirado quanto possa ser. Agora, isso é o que eu desejo para a Igreja de Cristo e o que todo Cristão desejará. Desejamos que a Igreja de Cristo seja tão grande quanto possível. Deus não permita que por qualquer uma de nossas peneirações lancemos fora um dos preciosos filhos de Sião! Quando acentuadamente repreendemos, estamos ansiosos para que a repreensão não caia onde ela não é necessária e machuque e fira os sentimentos de qualquer um a quem Deus escolheu. Mas, por outro lado, nós não temos nenhum desejo de ver a Igreja multiplicada em detrimento da sua pureza! Não queremos ter uma caridade tão grande que tome a palha assim como de trigo. Queremos apenas ser caridosos o suficiente para usar o ventilador cuidadosamente para purgar o chão de Deus — mas ainda caridosos o suficiente para pegar o mais murcho trigo, preservá-lo para a causa do Mestre, que é o Fazendeiro. Eu confio, ao pregar esta manhã, que Deus possa me ajudar a discernir entre o precioso e o vil. E para que eu não possa dizer algo não caridoso que aparte qualquer do povo de Deus de ser parte de Sua Igreja verdadeira, viva e visível. E, no entanto, ao mesmo tempo eu oro para que eu não possa falar tão vagamente e assim, sem a direção de Deus, como para abraçar qualquer um nos braços da afeição Cristã a quem o Senhor não recebeu na Aliança Eterna do Seu amor!
O nosso texto sugere-nos três coisas. Em primeiro lugar, um inquérito — nós temos o Espírito? Em segundo lugar, a cautela: se não temos o Espírito, somos sensuais. Em terceiro lugar, uma suspeita: há muitas pessoas que se separam. Nossa suspeita a respeito deles é que, não obstante a sua profissão refinada, são sensuais, e não têm o Espírito, pois o nosso texto diz: “Estes são os que a si mesmos se separam, sensuais, que não têm o Espírito”.
I. Em primeiro lugar, então, o nosso texto sugere UM INQUÉRITO — Nós temos o Espírito? Esta é uma investigação tão importante que o filósofo pode muito bem suspender todas as suas investigações para encontrar uma resposta para esta pergunta por sua própria conta pessoal! Todos os grandes debates da política, todos os assuntos mais cativantes de discussão humana podem muito bem parar hoje e nos dar uma pausa para que façamos a pergunta solene: “Tenho o Espírito?”. Para esta pergunta não lide com quaisquer exterioridades da religião, mas se trata da religião em seu ponto mais vital. Aquele que tem o Espírito, embora esteja errado em 50 coisas, estando direita nesta, está salvo! Aquele que não tem o Espírito, seja ele sempre tão ortodoxo, seja o seu credo tão correto como a Escritura, sim, e sua moral exteriormente tão pura como a Lei de Deus, ainda assim não é salvo; ele está destituído da parte essencial da salvação: o Espírito de Deus habitando nele!
Para nos ajudar a responder a esta pergunta, tentarei estabelecer os efeitos do Espírito em nossos corações sob metáforas diversas da Escritura. Eu tenho o Espírito? Eu respondo: “e qual é a operação do Espírito? Como devo eu discerni-lo?”. Ora, o Espírito opera em muitos aspectos, todos eles misteriosos e sobrenaturais, todos eles com os sinais reais de Seu próprio poder e com determinados sinais que se seguiram, através dos quais podem ser descobertos e reconhecidos.
1. A primeira obra do Espírito no coração é um trabalho em que o Espírito é comparado com o vento. Você se lembra de quando nosso Salvador falou a Nicodemos, Ele representou a primeira obra do Espírito no coração como sendo semelhante ao vento: “que sopra onde ele quer”, “assim”, Ele disse, “é todo aquele que é nascido do Espírito” [João 3:8]. Ora, você sabe que o vento é uma coisa muito misteriosa. E apesar de existirem algumas definições dele que pretendem ser explicações sobre o fenômeno, embora eles certamente deixam a grande questão de como o vento sopra e qual é a causa de seu sopro em uma determinada direção, de onde ele estava antes. O fôlego dentro de nós, o vento, fora de nós — todos os movimentos do ar — são para nós misteriosos. E a obra renovadora do Espírito no coração é muito misteriosa.
É possível que, neste momento, o Espírito de Deus possa soprar em alguns dos milhares de corações diante de mim. No entanto, seria uma blasfêmia se alguém perguntasse: “Por qual o caminho veio o Espírito de Deus para tal coração? Como entrou ali?” E seria tolice para uma pessoa que está sob a operação do Espírito perguntar como isso opera, você não sabe onde é o depósito do trovão. Você não sabe onde as nuvens estão equilibradas. Nem pode saber como o Espírito procede do Altíssimo e entra no coração do homem! Pode ser que durante um sermão dois homens estejam ouvindo a mesma verdade. Um deles ouve atentamente, como o outro, e se lembra tanto quanto ele. O outro é derretido em lágrimas ou movido por pensamentos solenes. Mas aquele, embora igualmente atento, não vê nada no sermão, exceto, talvez, algumas importantes verdades bem estabelecidas. Quanto ao outro, seu coração está quebrantado dentro dele e de sua alma se derrete! Pergunte-me como é que a mesma verdade tem um efeito sobre o primeiro e não sobre o seu companheiro — eu respondo, porque o misterioso Espírito do Deus vivo leva a verdade a um coração e não ao outro!
Um somente sente a força da verdade e esta pode ser forte o suficiente para fazê-lo tremer, como Félix. Mas o outro sente o Espírito indo com a verdade que renova o homem, regenera-o e o leva a passar para essa condição graciosa que é chamado de estado de salvação! Esta mudança ocorre instantaneamente. É como uma mudança milagrosa como qualquer milagre que lemos nas Escrituras. É extremamente sobrenatural! Pode ser imitado, mas nenhuma imitação dele pode ser verdadeira e real. Os homens podem fingir ser regenerados sem o Espírito, mas eles não podem [por si mesmos] serem regenerados! Esta é uma transformação tão maravilhosa que as maiores tentativas do homem nunca podem alcançá-la. Podemos argumentar o quanto quisermos, mas não podemos argumentar a nossa própria regeneração! Podemos meditar até nossos cabelos se tornarem grisalhos com o estudo, mas não podemos planejar o nosso próprio novo nascimento! Isso é operado em nós pela soberana vontade de Deus somente:
“O Espírito, como um vento celeste,
Sopra sobre os filhos da carne,
Nos inspira com uma mente celestial,
E forma o homem de novo.”
Mas pergunte ao homem como — ele não pode dizer-lhe! Pergunte a ele quando — ele pode reconhecer o tempo, mas quanto à maneira dele, ele não sabe mais sobre isso do que você sabe! É um mistério para ele.
Você se lembra da história do Vale da Visão. Ezequiel viu ossos secos deitados, espalhados aqui e ali no vale. O comando veio a Ezequiel: “Diga a esses ossos secos, que vivam”. Ele disse: “Vivam”, e os ossos se achegaram, “osso ao seu osso e carne veio sobre eles”. Mas, ainda assim não viveram. “Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize ao espírito: Assim diz o Senhor DEUS: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam” [Ezequiel 37:9]. Eles pareciam exatamente como viventes. Havia carne e sangue ali. Existiam os olhos, as mãos e os pés. Mas quando Ezequiel havia falado houve um misterioso algo dado que os homens chamam de vida e foi dado de uma maneira, como o sopro do vento. É assim mesmo hoje. Pessoas não convertidas e ímpios podem ser muito morais e excelentes, eles são como os ossos secos quando eles estão juntos e vestidos com carne e sangue. Mas, para fazê-los viver espiritualmente, é preciso a inspiração Divina do sopro do Todo-Poderoso, o Espírito Divino, o Vento Divino a soprar neles e, em seguida, eles vivem! Diga, meu ouvinte, você já teve alguma influência sobrenatural em seu coração? Porque, se não, eu posso parecer duro com você, mas eu sou fiel, se você nunca teve mais do que a natureza em seu coração, você está “em fel de amargura, e em laço de iniquidade” [Atos 8:23]. Não, senhor, não zombe do que fala! É tão verdadeiro quanto a Bíblia, pois é a partir da Bíblia que isso foi tomado e como prova disto ouça-me! “Aquele que não nascer (do alto) da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” [João 3:5]. O que você diz sobre isso? É em vão para você falar em fazer-se nascido de novo. Você não pode nascer de novo, senão pelo Espírito e você perecerá, a menos que você o seja! Você vê, então, o primeiro efeito do Espírito Santo e por este você pode responder à pergunta.
2. No próximo lugar, o Espírito na Palavra de Deus é muitas vezes comparado ao fogo. Após o Espírito, como o vento, fazer com que o pecador morto, viva, em seguida, vem o Espírito como fogo. Ora, o fogo tem um minucioso e atormentador poder. É purificador, mas purifica por um processo terrível. Agora, depois que o Espírito Santo nos deu a vida do Cristianismo, começa imediatamente a arder em nosso coração; o Senhor esquadrinha e experimenta nossas rédeas e acende uma candeia dentro de nossos espíritos que descobre as maldades de nossa natureza e a repugnância de nossas iniquidades. Diga, meu ouvinte, você sabe alguma coisa sobre este fogo em seu coração? Porque, se não, você ainda não recebeu o Espírito! Para explicar o que quero dizer, deixe-me contar uma parte da minha própria experiência para ilustrar os efeitos de fogo do Espírito. Eu vivi descuidado e imprudente. Eu poderia entrar em pecado, bem como outras pessoas o fazem. Às vezes, minha consciência me feria, mas não o suficiente para me fazer deixar o vício. Eu poderia entrar em transgressão e eu poderia amar isto — não tanto quanto os outros a amam — a minha formação inicial não me deixou fazer isso — mas ainda assim, o suficiente para provar que meu coração era degenerado e corrupto! Uma vez algo mais do que a consciência me feriu. Eu não sabia, então, do que se tratava. Eu era como Samuel, quando o Senhor o chamou. Eu ouvi a voz, mas eu não sabia de onde ela vinha. A agitação começou em meu coração e eu comecei a sentir que, aos olhos de Deus eu era pecador perdido, arruinado e condenado. Dessa convicção eu não conseguia livrar-me. Fizesse o que eu podia, isso me perseguia. Se eu procurava me divertir, minha mente me assaltava com pensamentos sérios, foi inútil. Fui obrigado a continuar trazendo comigo um fardo pesado nas costas. Eu fui para a minha cama e lá eu sonhei com o inferno e sobre “a ira vindoura”. Eu acordei e este pesadelo sombrio, este fardo opressivo continuava a pairar em mim! O que eu poderia fazer? Renunciei ao primeiro hábito vicioso, depois outro a, não importava. Tudo isso foi como puxar um tição de uma chama que se alimentou com florestas em chamas. Fiz o que eu pude, minha consciência não encontrou descanso. Até para Casa de Deus fui ouvir o Evangelho. Não houve Evangelho para mim. O fogo queimou, porém o mais ferozmente e o próprio sopro do Evangelho parecia alimentar a chama. Embora eu tenha ido à minha câmara e meu quarto para orar, os céus eram como cobre e as janelas do céu foram barradas contra mim. Eu não conseguia receber nenhuma resposta. O fogo queimou com mais veemência. Então eu pensei: “Eu não viverei para sempre, quisera Deus que eu nunca tivesse nascido!”. Mas eu não ousava morrer, pois havia o inferno quando eu estivesse morto. E eu não ousava viver, pois a vida se tornara intolerável. Ainda assim, o fogo ardia contínua e veementemente até que finalmente cheguei a esta decisão: “Se há salvação em Cristo, eu vou obtê-la. Eu não tenho nada de meu próprio em que confiar. Eu nesta hora, ó Deus, renuncio ao meu pecado e renuncio à minha justiça própria também”. E o fogo ardia novamente e queimou todas as minhas boas obras, sim, e os meus pecados com eles! E então eu vi que toda aquela queima foi para me trazer para Cristo, e ó, o gozo e a alegria do meu coração quando Jesus veio e jogou água no fogo e disse: “Eu te comprei com o meu sangue. Coloque sua confiança em Mim. Eu farei por você o que você não pode fazer por si mesmo. Levarei os seus pecados. Vou vesti-lo com um manto imaculado de justiça. Vou guiá-lo em toda a sua jornada através da terra, e por fim no Céu”. Diga, meu caro ouvinte, você sabe alguma coisa sobre o Espírito a queimar? Porque, se não, mais uma vez eu digo, eu não sou duro, mas verdadeiro, se você nunca sentiu isso, você não conhece o Espírito!
3. Prossigamos um pouco mais. Quando o Espírito tem, assim, vivificado a alma e a convencido do pecado, então Ele vem sob outra metáfora. Ele vem sob a metáfora do óleo. Nas Escrituras, o Espírito Santo é mui frequentemente comparado ao óleo. “Unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda”. Ah, irmãos e irmãs, embora o início do Espírito seja pelo fogo, não para por aí! Podemos ser, antes de tudo, condenados e levados a Cristo pela miséria. Mas quando chegamos a Cristo, não há miséria em Deus e nossas tristezas não resultam de nos aproximarmos o suficiente dEle! O Espírito Santo vem, como o bom samaritano, derrama o azeite e o vinho. E oh, o óleo é como Aquele que unge a nossa cabeça e com o qual Ele cura nossas feridas! Quão suave os unguentos com os quais Ele unge as nossas feridas! Quão abençoado o colírio com que Ele unge os nossos olhos! Quão celeste o unguento com o qual ata nossas chagas, feridas e contusões e faz-nos reestabelecidos e coloca os nossos pés sobre uma rocha e define nossas idas! O Espírito, após Ele ter condenado, começa a consolar. E você que já sentiu o poder consolador do Espírito Santo me será por testemunha: não há Consolador como Aquele que é o Consolador! Oh, traga a música, a voz da música e do som de harpas! Ambos são como o vinagre sobre salitre para ele que tem um coração pesado. Traga-me os encantos do mundo ilusório e todos os divertimentos de seus prazeres: eles nada fazem, senão atormentar a alma, ferindo-a com muitos espinhos! Mas oh, quando o Espírito do Deus vivo sopra sobre o coração, não há uma onda deste mar tempestuoso que não adormeça para sempre quando Ele ordena calmaria! Não há um único sopro do orgulhoso furacão e tempestade que não cesse de uivar e que não se aquiete quando Ele diz-lhes: “A paz seja convosco. Os teus pecados te são perdoados”. Digam, vocês conhecem o Espírito sob a figura de óleo? Vocês já sentiram Ele trabalhando em seus espíritos, confortando-vos, ungindo a vossa cabeça, fazendo vocês felizes, fazendo com que vocês se regozijem? Há muitas pessoas que nunca sentiram isso. Eles esperam que eles sejam religiosos. Mas a sua religião nunca os torna felizes. Há dezenas de professos que têm religião apenas o suficiente para torná-los miseráveis??! Deixe-os estarem receosos de que eles não possuem nenhuma religião, pois a religião torna as pessoas felizes. Quando isso tem o seu pleno domínio com os homens, ela os torna felizes. Pode começar em agonia, mas não termina aí! Diga, você já teve seu coração saltando de alegria? Teve os seus lábios sempre a cantarolar cânticos de louvor em êxtase? Os seus olhos sempre a reluzir a chama da alegria? Se estas coisas não são assim, temo que você ainda está sem Deus e sem Cristo, pois onde o Espírito vem, Seus frutos são alegria, paz, amor, confiança e segurança para sempre!
4. Sejam pacientes comigo mais uma vez. Eu tenho que mostrar a vocês mais uma figura do Espírito, e por isso, igualmente, vocês serão capazes de determinar se estão sob a Sua operação. Quando o Espírito agiu como o vento, como o fogo como óleo e, Ele, então, age como a água. Dizem-nos que devemos “nascer de novo da água e do Espírito” [João 3:5]. Agora eu não acho que você seja insensato o suficiente para precisar que eu deva dizer que não há água, seja de imersão ou de aspersão, que possa, no mínimo grau operar a salvação de uma alma. Pode haver algumas poucas pobres criaturas cujas cabeças foram colocadas em seus ombros de forma errada, que ainda acreditam que algumas gotas de água das mãos de um padre podem regenerar as almas! Devem existir alguns poucos, mas eu espero que a raça seja extinta em breve. Nós confiamos que o dia virá em que todos os senhores não terão nenhum “outro evangelho” para pregar em nossas Igrejas, mas terão purificado os feitos de Roma e quando essa mancha terrível sobre a Igreja Protestante, chamado Puseísmo, terá sido cortada como um câncer desraigado desde suas próprias raízes. Quanto antes nos livrarmos deles melhor! E sempre que ouvimos falar de algum deles indo para Roma, deixe-os ir — eu desejo que nós pudéssemos tão facilmente nos livrar do Diabo — eles podem ir juntos — nós não queremos qualquer um deles na Igreja Protestante! Mas o Espírito Santo, quando Ele vem ao coração, vem como água. Ou seja, Ele vem para purificar a alma. Aquele que hoje vive sujo como ele era antes de sua conversão fingida é um hipócrita e mentiroso! Aquele que hoje ama o pecado e vive nele, assim como ele provavelmente fazia, deixe que ele saiba que a verdade não está nele, mas ele tem recebido uma ilusão e acredita em uma mentira! O povo de Deus é um povo santo. O Espírito de Deus opera por amor e purifica a alma. Uma vez que Ele entra em nossos corações não terá descanso até que Ele purgue cada pecado para fora! O Santo Espírito de Deus e o pecado do homem não podem viver juntos em paz — ambos podem estar no mesmo coração — mas ambos não podem reinar ali, nem ambos podem sossegar ali, pois “a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro” [Gálatas 5:17]. Eles não podem descansar, mas haverá um combate perpétuo na alma, de modo que o Cristão terá que clamar: “Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? [Romanos 7:24]. Mas, em devido tempo, o Espírito expulsará todos os pecados e nos apresentará irrepreensíveis diante do trono de Sua Majestade com superabundante alegria.
Agora, meu ouvinte, responda a esta pergunta para si mesmo e não para outro homem. Você recebeu este Espírito? Responda-me, pelo menos — se é um escárnio, responda-me. Se você zombar e disser: “Eu não sei de nada do seu discurso entusiasmado”, que seja assim, senhor; diga “não” então! Pode ser que você não se importe por não responder absolutamente. Rogo-lhe, não rejeite a minha súplica! Sim ou não? Você já recebeu o Espírito? “Senhor, ninguém pode encontrar uma falha em meu caráter. Eu acredito que deverei entrar no Céu através das minhas próprias virtudes”. Essa não é a questão, senhor! Você já recebeu o Espírito? Tudo o que você diz, você pode ter feito. Mas se você deixou o outro por fazer e não recebeu o Espírito, sucederá mal com você por fim. Você já teve uma operação sobrenatural sobre o seu próprio coração? Você foi feito um novo homem ou nova mulher em Cristo Jesus!? Porque se não, dependendo disto, assim como a Palavra de Deus é verdadeira, você está fora de Cristo e morrendo assim, você ficará de fora do Céu, seja você quem for!
II. Assim eu tentei ajudá-lo a responder à primeira pergunta — o inquérito — Nós temos recebido o Espírito? E isso me traz à CAUTELA. Quem não recebeu o Espírito é dito ser sensual. Oh, que abismo existe entre o menor Cristão e o maior moralista! Que grande distinção existe entre o maior professo destituído da graça Divina e o menor dos crentes de Deus que possui graça Divina em seu coração! Uma diferença tão grande quanto há entre a luz e as trevas, entre a vida e a morte, entre o Céu e o Inferno existe entre um santo e um pecador, pois observe o que o meu texto diz — em uma frase não muito polida — que, se não temos o Espírito somos sensuais. “Sensuais!”, diz alguém, “Bem, eu não sou um homem convertido, nem tenho a pretensão de ser, mas eu não sou sensual”. Bem, amigo, e é muito provável que você não seja; não na aceitação comum do termo sensual. Mas entenda que esta palavra, no grego, significa realmente o que uma palavra em inglês como tal significaria, se tivéssemos uma tal: animalesco. Nós não temos uma palavra, precisamos de uma tal, apesar de tudo. Há uma grande distinção entre meros animais e homens: o homem tem uma alma e o mero animal não tem nenhuma. Há uma outra distinção entre meros homens e um homem convertido. O homem convertido tem o Espírito, o homem não convertido não O tem de forma alguma. Ele é um homem animalesco, não é um homem espiritual. Ele não tem nada além da mera natureza e não tem herança no reino espiritual da graça. Estranho é que animalesco e sensual deverão, afinal, significar o mesmo! Amigo, você não tem o Espírito, então, você não é nada melhor — seja quem você for, ou o que quer que seja — do que aquilo que a Queda de Adão deixou a você! Ou seja, você é uma criatura caída, tendo apenas as capacidades de viver aqui em pecado e viver para sempre no Inferno. Você não tem a capacidade de viver no Céu absolutamente, pois você não tem o Espírito e, portanto, você é incapaz de conhecer ou apreciar as coisas espirituais! E observe, um homem pode estar nesta condição e ser um homem sensual e ele ainda pode ter todas as virtudes que podem enfeitar um Cristão. Mas, com tudo isso, se ele não tem o Espírito, ele não está nem um centímetro mais longe de onde a Queda de Adão o deixou, ou seja, condenado e sob a maldição.
Sim, e ele pode atender à religião, com todas as suas forças, ele pode tomar o sacramento e ser batizado e pode ser o professo mais devoto. Mas se ele não tem o Espírito, ele não tem ido para a frente uma única polegada de onde ele estava, pois ele ainda está em “laços da iniquidade”, uma alma perdida! Não, ainda mais, ele pode tomar frases religiosas até que ele possa falar muito fluentemente sobre a religião. Ele pode ler biografias, até que ele pareça ser um filho profundamente ensinado por Deus. Ele pode ser capaz de escrever um artigo sobre a experiência profunda de um crente, mas se essa experiência não é sua própria, se ele não a tiver recebido pelo Espírito do Deus vivo, ele ainda não é nada mais do que um homem carnal e o Céu é para ele um lugar para o qual não há entrada! Não, ainda mais, ele pode ir tão longe a ponto de se tornar um ministro do Evangelho e um ministro bem sucedido também. E Deus pode abençoar a Palavra que ele prega para a salvação dos pecadores. Mas a menos que ele tenha recebido o Espírito, seja ele tão eloquente quanto Apolo e tão fervoroso como Paulo, ele não é nada mais do que um mero homem animalesco, sem capacidade para as coisas espirituais.
Não, para coroar tudo, ele pode até ter o poder de operar milagres, como Judas tinha, ele pode até ser recebido na Igreja como um crente, como foi Simão, o mago e depois de tudo isso — se tivesse expulsado os demônios, embora ele tivesse curado o doente, se ele tivesse feito milagres — ele terá as portas do céu fechadas em seus dentes, se ele não tem recebido o Espírito! Esta é a coisa essencial, sem o que todas as demais são inúteis, ter o Espírito do Deus vivo! É uma verdade vinda de Deus, não é verdade, meus amigos? Não fuja dela. Se eu estou pregando uma mentira para você, rejeite-a. Mas se esta é uma verdade que eu posso comprovar pela Escritura, peço-lhe, não descanse até ter respondido a essa pergunta: Você tem o Espírito vivo, habitando e operando em seu coração?
III. Isto leva-me, ao terceiro ponto, para A SUSPEITA. Quão singular esta “separação” deve ser o oposto de ter o Espírito. Ouça! Eu ouço um senhor dizer: “Oh, eu gostaria de ouvi-lo pregar de forma inteligente e severamente. Estou convencido, senhor, há um grande número de pessoas na Igreja que não deveria estar ali. E por isso, há uma mistura tão corrupta na Igreja, temos determinado não participar de qualquer lugar absolutamente, eu não acho que a Igreja de Cristo, hoje em dia, é absolutamente limpa e pura o suficiente para permitir que eu me junte com ela. Mas, pelo menos, senhor, eu me uni a Igreja uma vez, mas fiz uma tal quantidade de barulho que eles ficaram muito contentes quando eu fui embora. E agora eu sou exatamente como os homens de Davi, eu sou o que está em dívida e descontente e eu dou uma volta a ouvir todos os novos pregadores que surgem. Tenho ouvido você agora nestes três meses, digo que vou e ouço alguém em um tempo muito pequeno se você não diz algo para me lisonjear. Mas tenho a certeza de que eu sou um dos eleitos especiais de Deus. Eu não participo de qualquer Igreja, porque a Igreja não é boa o suficiente para mim. Eu não me torno um membro de qualquer denominação, porque elas estão todas erradas, cada uma delas”. Ouça-me, senhor, eu tenho algo a dizer-lhe que não vai agradá-lo. “Estes são os que a si mesmos se separam, sensuais, que não têm o Espírito”. Espero que goste do texto! Ele certamente pertence a você, acima de todos os homens do mundo! “Estes são os que a si mesmos se separam, sensuais, que não têm o Espírito”. Quando eu li sobre isso eu pensei comigo mesmo, há alguns que dizem: “Bem, você é um Dissidente, como você se agrada com o texto: ‘Estes são os que causam divisões’”. Você está separado da Igreja da Inglaterra! Ah, meus amigos, um homem pode ser tudo o que for melhor para ele, mas a separação aqui pretendida é a separação da igreja universal de Cristo. A Igreja da Inglaterra não era conhecida na época de Judas, por isso o apóstolo não faz alusão a ela. “Estes são os que causam divisões” — isso é a partir da Igreja de Cristo — a partir do grande corpo universal dos eleitos! Além disso, vamos apenas dizer uma coisa: nós não nos separamos, fomos expulsos. Dissidentes não se separaram da Igreja da Inglaterra, da Igreja Episcopal! Quando o Ato de Uniformidade foi aprovado, eles foram forçados a sair dos seus púlpitos.
Nossos antepassados ??eram clérigos tão bons quanto quaisquer outros no mundo, mas não podiam comunicar com todos os erros do Livro de Oração, e foram, portanto, perseguidos até seus túmulos pela intolerância dos conformistas professos. Então, eles não se separaram. Além disso, nós não nos separamos. Não existe um Cristão sob o escopo do Deus do Céu, de quem estou separado. À mesa do Senhor, eu sempre convido todas as Igrejas para virem e sentarem-se e comungarem conosco. Se alguém me dissesse que estou separado da igreja Anglicana, Presbiteriana ou Metodista, gostaria de dizer que ele não me conhece, pois eu amo-os fervorosamente com um coração puro e não me separei deles. Posso ter opiniões diferentes das deles e neste ponto eu realmente posso ser considerado separado. Mas eu não estou separado no coração, eu trabalharei com eles, trabalharei com eles sinceramente!
Não, embora a minha Irmã Igreja da Inglaterra me envie, como ela tem feito, uma intimação para pagar uma taxa da igreja que eu não posso, em sã consciência pagar, irei ainda amá-la. E se ela tem cadeiras e mesas não importa, eu amarei por tudo isso. E se há uma Ragged School1 ou qualquer outra coisa para que eu possa trabalhar com ele para promover a glória de Deus nisso, eu vou unir-me com ela com todo o meu coração! Eu acho que suportar isso é um pouco difícil para nossos amigos — os da Estrita Comunhão dos Batistas. Eu não gostaria de dizer alguma coisa dura contra eles, pois eles estão entre as melhores pessoas do mundo. Mas eles realmente se separam do grande corpo do povo de Cristo. O Espírito do Deus vivo não vai deixá-los fazer isso realmente, mas eles fazem isso declaradamente, eles se separam da grande Igreja Universal. Eles dizem que não vão comungar com ela. E se alguém vem à sua mesa que não tenha sido batizado, eles o mandam embora. Eles certamente “separam”. Eu não acredito que agem assim por cisma intencional, mas ao mesmo tempo eu acho que o velho homem interior possui alguma influência sobre eles.
Oh, como meu coração ama a Doutrina da única Igreja. Quanto mais perto eu chego do meu Mestre em oração e comunhão, mais perto estou unido a todos os Seus discípulos! Quanto mais eu vejo os meus próprios erros e falhas, mais estou pronto para lidar com cuidado com aqueles que eu acredito estarem errando.
O pulso do corpo de Cristo é a comunhão. E ai da Igreja que busca curar os males do corpo de Cristo, parando seu pulso! Penso que é pecado se recusar a comungar com qualquer um que é um membro da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Desejo nesta manhã pregar a unidade da Igreja de Cristo. Tenho procurado usar o ventilador para soprar a palha. Eu tenho dito que nenhum homem pertence à Igreja de Cristo, a menos que ele tenha o Espírito. Mas se ele tem o Espírito, ai do homem que se separa dele! Oh, eu acho em mim mesmo grosseiramente em falta se ao pé dessas escadas eu encontre um filho de Deus verdadeiramente convertido, que se denomina um Metodista Primitivo ou um Wesleyano ou um Episcopal ou um Independente, e devo dizer, “não, senhor, você não concorda comigo em alguns pontos. Eu acredito que você é um filho de Deus, mas eu não tenho nada a ver com você”. Eu, então, acho que esse texto deveria ser tomado arduamente quanto a mim. “Estes são os que a si mesmos se separam, sensuais, que não têm o Espírito”.
Mas será que o fazemos, amados? Não, nós lhes daríamos ambas as nossas mãos e diríamos: Deus te prospere em sua jornada para o Céu. Contanto que você tenha o Espírito, nós somos uma família e nós não estaremos separados um do outro! Deus conceda que o dia possa vir quando cada muro de separação deva ser derrubado! Veja como ainda hoje estamos separados. Ali! Você encontrará uma Batista, que não conseguiria dizer uma palavra boa a um Pedobatista se você lhe desse um mundo! Você encontra até hoje Episcopais que odeiam essa palavra feia, “Dissidência”. E basta para eles que um Dissidente faça uma coisa, então eles não vão fazê-la, pois esta nunca será tão boa!
Ah e, além disso, existem alguns que são encontrados na Igreja da Inglaterra, que não irão somente odiar os Dissidentes, mas odiarão uns aos outros por uma barganha! Homens são encontrados, que não conseguem deixar ministros irmãos de sua própria Igreja pregarem em sua paróquia! Que anacronismo tais homens são! Eles parecem ter sido enviados ao mundo em nosso tempo puramente por engano, a sua época adequada teria sido o tempo da Idade das Trevas! Se eles tivessem vivido naquela ocasião, que belos Bonners2 teriam se tornado!
Que companheiros esplêndidos teriam sido para ajudar a atear o fogo em Smithfield!3Mas eles estão bastante desatualizados nestes tempos e eu olho para um clérigo assim peculiar, da mesma forma que eu olho para um Dodô: como um animal extraordinário cuja raça é quase, se não completamente extinta. Bem, você pode olhar, olhar e admirar. O animal será logo extinto. Não vai demorar muito, eu confio; não somente a Igreja da Inglaterra deve amar a si mesma, mas quando todos os que amam o Senhor Jesus estiverem prontos para pregar nos púlpitos uns dos outros, anunciando a mesma verdade, sustentando a mesma fé e poderosamente disputando por isso! Então o mundo “verá como esses Cristãos amam uns aos outros”. E, então, será conhecido no Céu que o Reino de Cristo veio e que Sua vontade está prestes a ser feita na terra como no Céu!
Meu ouvinte, você pertence à Igreja? Pois, fora da Igreja não há salvação! Mas observe o que é a Igreja. Não é a igreja Anglicana, Batista ou Presbiteriana; a Igreja é uma companhia de homens que receberam o Espírito! Se você não pode dizer que você tem o Espírito siga o seu caminho e estremeça. Siga o seu caminho e pense em sua condição perdida! E que Jesus, pelo Seu Espírito abençoe você de modo que você possa ser levado a renunciar as suas obras e caminhos de dor e voar para Aquele que morreu na cruz e ali encontre um refúgio da ira de Deus!
Eu posso ter dito algumas coisas ásperas nesta manhã, mas eu não sou muito dado a cortar e aparar e eu não acho que eu começarei a aprender esta arte agora. Se a coisa não é verdade, rejeite-a. Se é verdade por seu próprio risco rejeite o que Deus selou com autoridade Divina. Que a bênção do Pai, do Filho e do Espírito Santo repouse sobre a única Igreja, o Israel de Jeová. Amém e Amém.
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Notas:
[1] Ragged School: Um tipo de escola não-regular, informal que era destinada a crianças em vulnerabilidade social. A ideia de escolas irregulares foi desenvolvida por John Pounds, um sapateiro de Portsmouth. Em 1818, Pounds começou a ensinar crianças pobres, sem cobrança de taxas. (Maybole.org)
[2]: Bonner: bispo de Londres, caracterizado por sua extrema arrogância, perversidade e extrema crueldade, tornou-se o acusador, perseguidor e cúmplice da morte de muitos santos de Deus, isso aconteceu durante as perseguições marianas durante o século XVI. (FOXE. John. O Livro do Mártires. [Traduzido por Almiro Pisetta]. São Paulo: Mundo Cristão, 2005)
[3]: Smithfield: cidade de Londres, além de ser um local de execução de vilões e outros transgressores dos decretos do rei, ficou maiormente conhecido como o local de execução de muitos mártires piedosos, que recusaram se submeterem às heresias das Igrejas de Roma e Anglicana. (FOXE. John. O Livro do Mártires. [Traduzido por Almiro Pisetta]. São Paulo: Mundo Cristão, 2005)