“Quando o Senhor trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham.” (Salmo 126.1).
Na passagem acima, lemos que o povo de Deus estava em cativeiro. Não diz que tipo de cativeiro era, mas sabemos que o povo de Deus não deveria estar em prisão de espécie alguma. Depois o salmista diz que quando Deus libertou do cativeiro, as nações notaram e disseram: “Grandes coisas fez o Senhor a estes”, e ainda confirma dizendo: “Grandes coisas fez o Senhor por nós, e, por isso, estamos alegres. Faze-nos regressar outra vez do cativeiro, Senhor,” como naquele tempo, “como as correntes do Sul.”
A palavra “correntes” aqui significa “torrentes”, e o Sul, ou Neguebe, é o deserto inóspito que fica ao sul de Jerusalém, perto de Masada. Quando estive neste local, perguntei ao guia sobre este salmo. Ele me mostrou um wadi, um leito de rio vazio, tão seco quanto um osso. Mas contou que esteve ali certa vez quando chovera em Jerusalém. De repente, torrentes de água inundaram este leito, torrentes que não se podiam conter ou nem quase explicar.
As correntes do despertamento de Deus são exatamente assim, quando vem repentinamente para restaurar nosso cativeiro. Enquanto estivermos em cativeiro, não há água alguma. A palavra “de repente” é um termo próprio de avivamento. Você pode estar num deserto espiritual. Sua vida está ressecada. Os pobres e necessitados clamam, mas não há água. Depois, repentinamente, quando as chuvas começam a cair, há uma inundação incontrolável da presença de Deus, que arrasta tudo que está à sua frente. Por todas as Escrituras, encontramos referências à vinda de águas como bênçãos, como a chuva e a chuva serôdia, tal como vemos nesta passagem nos Salmos.
Os versículos 5 e 6 do Salmo 126 são a chave para que nosso cativeiro seja revertido. “Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria.” A figura que vem à minha mente aqui é do povo de Deus num lugar privado, prostrados diante do Senhor. Estão semeando a palavra de Deus diante dele em oração e com lágrimas. Enquanto estão ali orando, Deus está quebrantando seus corações. Depois se levantam, e deixam o recinto de oração com a preciosa semente que Deus lhes deu. Ainda chorando, pregam esta palavra, e semeiam esta semente, e Deus afirma que sem dúvida voltarão com fruto. É o coração que a torna frutífera.
Onde Estão as Lágrimas?
Você já se perguntou para onde foram as lágrimas nas nossas assembléias e igrejas? As lágrimas representam o derramar da alma. Pode-se dizer que lágrimas são orações líquidas. Lágrimas são amor sem palavras. Não importa em que país estiver, ou em que cultura, ou com qual raça, as lágrimas sempre dizem a mesma coisa. São eloqüentes. Comunicam quando a linguagem não é capaz de fazê-lo, e mostram que o coração está envolvido.
O pregador vai ao púlpito com uma mensagem polida; seus gestos, sua homilética, e sua hermenêutica estão perfeitos, mas o sermão está mais seco que farinha. Depois, de repente, sua voz falha, e lágrimas começam a rolar pelas faces. Imediatamente o diácono acorda do sono, pois percebe que o coração do pregador está envolvido. As pessoas sabem, ao ver as lágrimas nos olhos, que estão encontrando algo verdadeiro.
Se nossos olhos estão secos, é porque nosso coração está desértico. É porque nosso cativeiro não foi revertido. Deus quer mudar nosso cativeiro. Não creio que a igreja terá uma mensagem ao coração do mundo enquanto o Senhor não conquistar o coração da igreja. Quando o Senhor possuir o coração da igreja, dará para ver a genuinidade disso através de lágrimas saídas do coração.
Jesus disse em João 7.38: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva”. Eu pensava que isto fosse algo verbal, que representasse a pregação da palavra, e ainda creio que a inclua. Mas se você seguir a expressão “rios de águas” pelas Escrituras, descobrirá que na maioria das vezes se refere a rios de águas que saem dos olhos. Assim o salmista diz em Salmo 119.136: “Torrentes de água nascem dos meus olhos, porque os homens não guardam a tua lei”.
Jeremias diz: “Provera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em fonte de lágrimas! Então, choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo” (Jr 9:1).Todo o livro de Lamentações é sobre as lágrimas que as pessoas deviam derramar, e o choro que deviam expressar, por causa das crianças e do cativeiro do povo ao nosso redor.
Cativeiro Impede Lágrimas
A razão por que não vemos muitas lágrimas também está escondida no Salmo 126.1. É por causa do cativeiro. O povo de Deus está preso, sem liberdade. Algo os controla e os impede de romper para frente.
No livro mais antigo da Bíblia, Jó passou a maior parte da história relatada ali em cativeiro. Mas no último capítulo do livro lemos: “E o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o Senhor acrescentou a Jó outro tanto em dobro a tudo quanto dantes possuía” (Jó 42.10). Deus diz três vezes que Jó era o homem mais justo sobre a terra. Temia a Deus; aborrecia o mal; mas estava cativo. Qual era seu cativeiro? Estava preso a quê?
Jó estava cativo às suas próprias idéias do que significava ser justo, o que significava ser santo, e o que significava servir ao Senhor. Estava tão ocupado com seu próprio crescimento, sua própria libertação, e sua própria bênção, que não tinha tempo para os outros. Mas quando tirou os olhos de si mesmo por ter contemplado a Deus, e viu sua pequenez, e se arrependeu em pó e cinzas, então pôde compreender seus amigos. Ele orou, e Deus reverteu seu cativeiro. Quando Jó foi levado à cruz no seu interior, e pôde ver o Senhor e a si mesmo, o resultado foi quebrantamento, as águas começaram a fluir, e ele chorou. No final da sua história, Jó não era apenas justo, mas também misericordiosa.
Venha à Cruz
Não posso chorar por outros se tudo que ocupa minha mente é a preocupação com minha própria bênção, minha própria prosperidade, meu próprio ministério, e como Deus pode me usar. Tenho de ser descentralizado. Temos de vir à cruz, e ser destronizado, e descentralizado. Na cruz, Deus tira nossa mente da nossa própria vida insignificante.
A razão por que a oração com lágrimas nos atrai tão pouco é que tentamos entrar no nível celestial deste tipo de intercessão, no poder, na força e na sinceridade do velho homem. O velho homem não consegue manejar como arma o tipo de oração que estamos descrevendo, que é poderosa em Deus para destruir fortalezas. Só Deus nos pode dar esta capacidade. O velho homem pode imitá-la, mas nunca pode realmente exercê-la. Só pode imitar e fazer o barulho de “címbalo que retine”.
É quando entramos em união consciente com o Senhor, esperando diante dele, que nossa oração é transformada. Ao chegarmos à cruz, e passarmos o veredicto da cruz sobre nossos próprios pensamentos e palavras, somos libertos. No cativeiro, nosso espírito está preso, e não estamos livres para entrar na emoção da oração, no clamor de coração em favor das coisas que Deus nos mostra como seus alvos.
O monstro do egoísmo que estava em Jó, e que está em mim e em você, precisa ser enfrentado e expulso. Cristo não pode nos possuir, nem fazer com que rios de águas saiam dos nossos olhos, e fluam do coração como prometeu, até que sejamos verdadeiramente quebrantados. Este quebrantamento na oração vem quando Deus restaura o cativeiro de Sião.
Identificado Com Cristo
Já ouvimos muito sobre a morte, o sepultamento, e a ressurreição de Jesus, e pregamos que fomos identificados com o Senhor em tudo isso, mas não levamos esta identificação até onde precisa ser levada. Morremos com ele, fomos sepultados, ressuscitamos – sim, subimos também, e estamos assentados com ele nos lugares celestiais. Mas depois nos esquecemos de continuar. Agora ele está em intercessão contínua. Estar ligado com ele, identificado com ele, significa unir-se com ele na intercessão, tanto quanto nos outros passos.
O Espírito Santo não está satisfeito com a qualidade atual das orações na igreja. Ele deseja libertar nossos corações, para não ficarmos mais amarrados, e para podermos andar em tudo que planejou para nós. Deus atenderá às orações quando houver um verdadeiro clamor por avivamento, quando nosso cativeiro for restaurado, e quando todo nosso ser estiver envolvido.
Esta é a carga que Paulo sentia ao escrever para os romanos, quando disse: “Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência: tenho grande tristeza e incessante dor no coração; porque eu mesmo desejaria ser anátema”, ou ir para o inferno, se com isto meus compatriotas segundo a carne pudessem ser salvos (Romanos 9.1-3). Este é o tipo de carga que Moisés carregava quando foi diante de Deus e disse: Senhor, se não puder salvar este povo, “risca-me, peço-te, do livro que escreveste” (Êxodo 32.32).
Lágrimas quentes não saem de corações frios. Um coração frio é um coração em cativeiro, um coração que não pode entrar nesta esfera. Quando o Senhor restaura o cativeiro de Sião, então vemos Deus abrindo os céus, derramando torrentes de chuvas, e enchendo os leitos secos novamente.
Assim que Sião entrar em dores de parto, dará à luz. Existem dores de parto. Paulo estava se referindo a isto quando disse: “Meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gálatas 4.19). Dores de parto são agonias profundas, gemidos que não podem ser expressos em palavras.
“Derramai perante ele o vosso coração” (Salmos 62.8). A igreja primitiva tinha um lema que repetiam continuamente: “Não se chega no céu sem lágrimas”. Durante três séculos a Igreja usou este lema.
Três Tipos de Gemido
Há três gemidos em Romanos 8. O versículo 22 diz que “toda a criação” geme agora, esperando a nossa manifestação, eu e você, quando Deus terminar a sua obra em nós. A criação está esperando a libertação do cativeiro da corrupção, que é o resultado da queda.
Depois passamos a um nível mais alto de gemidos. Diz que nós também gememos (v. 23). Paulo confirma isto em 2 Coríntios 5.2, dizendo que gememos no nosso tabernáculo ou corpo atual. Temos as primícias do Espírito Santo, e quando ansiamos por avivamento, quando ansiamos por santidade, quando ansiamos por diligência que está fora do nosso alcance, o Espírito geme para que sejamos revestidos e aperfeiçoados com tudo que Deus tem. Deus quer que gemamos, que ansiemos, e que avancemos para este alvo da sua completitude.
Mais adiante ele diz (v. 26) que não só a criação geme para se libertar do cativeiro da corrupção, e o cristão geme para se libertar do corpo de carnalidade, mas o Espírito de Deus, o Consolador dentro de nós, também geme para ser livre dos laços do cativeiro. Nós o amarramos, e o limitamos às nossas orações estéreis, às nossas listas de oração e às coisas que concluímos intelectualmente que o Espírito quer ou precisa fazer. Mas não caminhamos suficientemente.
Poder e lágrimas são eternamente interligados nas Escrituras. Se você for a Jerusalém, encontrará o que chamam de “vidros de lágrimas”. Os rabinos costumavam recolher suas lágrimas em vidrinhos para guardá-las. Isto se baseia no Salmo 56.8: “Recolheste as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas inscritas no teu livro?” No livro do Apocalipse, Deus guarda taças de oração (Ap 5.8). A oração não se dimensiona apenas pelo tempo que se gasta; sua medida depende da intensidade, quando chegamos a um verdadeiro ponto de liberação.
Quem poderá contemplar profundamente a maravilhosa Cruz sem lágrimas? Quem pode compartilhar a Palavra da Cruz sem lágrimas, se realmente a compreende? Quem pode olhar para as almas perdidas e para aquilo que acontece por toda parte hoje, sem lágrimas? Quem pode conhecer o coração de Deus sem lágrimas? A situação que vemos hoje demanda uma contribuição de lágrimas.
Deus Atende às Lágrimas
As lágrimas fazem toda a diferença. Este fato não está escondido nas Escrituras, entretanto geralmente não o enxergamos e simplesmente passamos por cima. Por exemplo, foi quando os filhos de Israel gemeram e suspiraram e clamaram que Deus veio e ouviu. Ele disse: “Vi, com efeito, a aflição do meu povo no Egito, ouvi os seus gemidos, e desci para livrá-los”( Atos 7.34).
A palavra “gemido” neste texto é muito importante. É a mesma palavra usada na passagem que diz: “O Espírito nos ajuda na fraqueza … com gemidos inexprimíveis”.
Agora observe a palavra “ajuda”. Só é usada em uma outra ocasião no Novo Testamento, quando Marta reclamou com Jesus, e pediu que ordenasse a Maria que a “ajudasse” (Lc 10.40). Em outras palavras, Marta queria que Maria se envolvesse no serviço que estava demais para ela. Dá uma idéia de alguém que está carregando um peso muito grande, e está a ponto de não agüentar mais, quando enfim um outro chega e diz: “Deixe-me ajudá-lo antes que entre em colapso”.
O Espírito de Deus me ajuda na minha fraqueza. Ele me auxilia com gemidos. São os mesmos gemidos do povo de Israel na escravidão do Egito, na sua angústia por libertação. É o gemido de Ana quando chorou até que Deus a ouviu, e lhe deu um profeta por filho (1 Sm 1.1-20). É o mesmo também de Ezequias, a quem Isaías trouxe a palavra de Deus: “Vi as tuas lágrimas” (2 Rs 20.5), e cuja doença mortal foi transformada em vida.
Neemias chorou, e suas lágrimas e olhos inchados foram notados pelo rei. Deus usou suas lágrimas para libertar o povo de Deus e para construir os muros de Jerusalém. Vez após vez, lemos nas Escrituras que Deus não desprezará a um coração quebrantado e contrito. “O Senhor já ouviu a voz do meu pranto” (Sl 6.8).
“Semear em Lágrimas”
A Bíblia diz que devemos “semear em lágrimas” – semear a Palavra de Deus em lágrimas. Lembre do apóstolo Paulo que disse em Atos 20 que esteve entre os efésios por três anos de dia e de noite admoestando e pregando com lágrimas. Em 2 Coríntios 2.4, ele diz: “Porque em muita tribulação e angústia de coração vos escrevi, com muitas lágrimas”.
Então ele falava a Palavra de Deus e escrevia a Palavra de Deus com lágrimas. E disse também para Timóteo: “…recordando-me das tuas lágrimas” (2 Tm 1.4).
Se semearmos com lágrimas no nosso quarto em particular, então sairemos com um coração quebrantado, e veremos o fruto daquelas promessas que plantamos com fé. Esta é a verdadeira preparação de mensagens – não apenas a elaboração de um esboço, mas a entrega do coração e da mente diante de Deus.
“Servindo ao Senhor com Lágrimas”
Paulo não só semeou a Palavra de Deus com lágrimas, mas serviu ao Senhor com lágrimas (At 20.19). O que isto significa? Só posso compreendê-lo em parte.
“Servir ao Senhor com lágrimas” significa, eu creio, ministrar ao Senhor e sofrer junto com ele. Se algo terrível lhe acontecer, e alguém se aproximar e se sentar ao seu lado, e chorar junto com você, isto não lhe ministrará? Creio que no mesmo sentido, quando nos aproximamos ao Senhor, e esperamos nele, e choramos com o coração do nosso Pai celestial, estamos partilhando da sua angústia e do seus sentimentos. Estamos sendo “cooperadores de Deus” (1 Co 3.9).
Queremos o poder de Deus, mas não queremos sua dor. Em Filipenses 3.10, Paulo escreveu da “comunhão dos seus sofrimentos” – (no plural). Também escreveu que ele e os outros obreiros estavam “como entristecidos, mas sempre se alegrando” (2 Co 6.10). É isto que Deus tem para nós. Como foi que perdemos esta maravilhosa espera, onde a presença do Senhor está sobre nós, de tal forma que entramos no anseio do seu coração e o servimos com lágrimas! No nosso ministério para o Senhor, não devemos negligenciar nosso ministério ao Senhor, entrando na intimidade do seu coração e partilhando dos seus sentimentos.
Suplicar com Lágrimas
“Derramai perante ele o vosso coração” (Sl 62.8). Devemos derramar nossos corações diante de Deus antes que ele possa derramar o Espírito sobre nós. Lembro de como fiquei chocado quando examinei as Escrituras e vi algumas palavras ali que temos esquecido. Tem a palavra grega penthos, que significa um coração quebrantado e contrito, um fluir do coração e da alma, uma empatia com Deus, compungido no coração, de coração partido. E depois há palavras como “solicitude” – sentir junto com o Senhor.
Temos feito isto em oração? Temos tomado tempo para ouvi-lo e dizer: “Senhor, estou à tua disposição” – talvez incapazes de falar, às vezes apenas gemendo. Esta é uma dimensão de oração, um clamor de coração para avivamento.
Lembro-me quando o Senhor começou a me ensinar isso. Estava passando a noite com um maravilhoso casal da igreja Presbiteriana, um presbítero e sua esposa, e eu pregaria na sua igreja aquela noite e nas duas ou três noites seguintes. Tivemos um encontro naquele primeiro dia para conversar. Harold era um homem amável, mas percebi logo que havia algo errado, algo no seu interior que o estava impedindo. Comecei a orar por ele.
Falei: “Senhor, mostra-me como orar por Harold. Não sei como orar por ele. Há algo errado, mas não tenho a menor idéia do que seja.”
Naquela noite, fomos à igreja e tivemos um culto maravilhoso. Quando chegamos em casa, antes de irmos dormir, eu disse: “Por que não oramos juntos?” Então Harold, sua esposa e eu demos as mãos uns aos outros e começamos a orar.
Abri minha boca e disse: “Senhor, quero levar Harold diante de ti…”, e sem qualquer emoção, sem qualquer sensação de entrar nos meus próprios sentimentos humanos, foi como se a tristeza invadisse todo meu ser. Minha voz começou a falhar e pensei: “O que está acontecendo comigo?” Meus olhos começaram a lacrimejar, e perguntei a mim mesmo o que iam pensar sobre este pregador se chorasse na oração.
“Senhor, o que vão pensar?” disse no meu íntimo. Mas o Senhor aparentemente não se importava com o que iam pensar. Tentei me recompor, mas tudo que conseguia dizer era apenas: “Harold… Harold…” As lágrimas escorriam pelas faces, e caíam do meu queixo. Humilhado, não conseguia soltar minhas mãos para pegar meu lenço, porque estávamos de mãos dadas. Continuei tentando me controlar, mas não pude fazer outra coisa senão soluçar e dizer: “Harold… Harold…”
Isto continuou por uns dez minutos. Estava totalmente humilhado. Finalmente, tudo que consegui dizer era: “Perdoem-me. Não sei o que está acontecendo.”
No mesmo instante, Harold disse: “Eu sei o que está acontecendo”. Fomos dormir. No dia seguinte, de manhã, tivemos uma reunião de oração. Harold ficou em pé e disse: “Quero agradecer a Deus por ter me libertado ontem à noite naquele momento de oração – depois de trinta anos de escravidão!”
Gemidos Inexprimíveis
Fiquei profundamente comovido. Fui para um lugar para estar sozinho com o Senhor. Perguntei: “Senhor, o que está tentando me ensinar? O que está acontecendo?”
O Senhor respondeu: “Você queria saber como orar por Harold. Mas você não ama a Harold como eu o amo. Eu o amo. E você não conhece a Harold como eu o conheço. Como pode orar por Harold? Mas você disse que queria aprender a orar por ele. Então eu aceitei suas palavras ao pé da letra. Tomei suas emoções emprestadas. Tomei seu coração emprestado. Tomei suas palavras emprestadas. E orei por Harold através de você. Você entrou numa dimensão de oração que pouco conhece. O Espírito de Deus fez intercessão através de você com gemidos que nunca poderiam ser colocados em palavras humanas, pois eram grandiosos demais, profundos demais para isso; como isso seria impossível, tomei suas faculdades emprestadas para fazer minha oração. E, a propósito Al, o Pai sempre ouve minhas orações.”
Então eu disse: “Senhor, isto é realmente algo que dá para experimentar? Podemos entrar nisso?” E o Senhor começou a mostrar-me Epafras no livro de Colossenses (4.12): “… que sempre luta por vós nas suas orações”. A palavra “luta” é a palavra “agonizomai” no grego. É a mesma palavra usada para se referir à luta de Jesus no Jardim do Getsêmani (Lucas 22.44). “E, posto em agonia…” (“agonai”). É a mesma palavra usada para a Maratona Grega de 41 quilômetros. E é a mesma palavra que Paulo usou quando disse que queria que os cristãos romanos lutassem (agonizomai) juntos com ele em oração (Rm 15.30).
Mas onde está hoje a agonia? Deus está nos dizendo que devemos ir além da nossa posição atual na oração, que devemos esperar nele até que nossos corações se quebrantem, até que sejamos conduzidos a uma nova dimensão. Nossas orações terão uma dimensão cósmica e veremos coisas surpreendentes acontecerem.
O Dom de Lágrimas
Este é um dom de Deus e não o receberemos se o não pedirmos. Em Gálatas 4.6, diz: “E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai”. Sempre lia esta passagem, e achava que se referia a falar suavemente: Aba, Pai. Mas a palavra “clama” usada aqui é krazein, que é usada do geraseno endemoninhado, que andava gritando pelos sepulcros e montes (Marcos 5.5). O que Gálatas 4.6 quer dizer é que quando nos colocamos diante de Deus, o Espírito do Filho amadurecido é enviado ao nosso coração e clamamos “Aba” – que é um gemido impossível de ser colocado em palavras. É um estado de enfraquecimento, uma carga no coração, uma atitude de “Não mais eu, mas Cristo em mim” na oração.
Conhecemos algo sobre “Não mais eu, mas Cristo em mim” quando se aplica ao nosso viver diário, mas quando foi a última vez que o aplicou à sua vida de oração? Não conheço muito esta dimensão na oração tampouco, mas desejo aprender a fim de responder ao clamor por avivamento que está no meu coração há muitos anos.
Examine a história e verá que foi nos grandes momentos de avivamento, quando lágrimas e quebrantamento vieram para a igreja, que Deus rasgou os céus e desceu. Foi quando rasgaram seus corações e choraram diante dele.
Isto é muito além de chorar por arrependimento ou por alegria diante do Senhor. É entrar na comunhão do seu sofrimento, é relacionar-se com o Espírito Santo, é orar com o Espírito. É colocar a mim mesmo e as minhas faculdades à disposição do Espírito Santo. Torno-me como leito de rio, como wadi, e Deus derrama o seu Espírito; de repente, através desta pessoa seca e vazia passa um fluir torrencial da sua Presença. Começamos a ver com seus olhos e a sentir com seu coração, a ansiar com seus desejos e a respirar com seu sopro. Isto nunca pode ser produzido pelo homem. É trabalhado em nós pelo próprio Deus. Este é o dom de lágrimas.
Quem Pedirá o Dom de lágrimas?
Tenho visto homens fortes e durões, homens que normalmente não chorariam, dizer: “Senhor, concordo com isto; quero pedir o dom de lágrimas”. Lembro-me de um homem desse tipo, um homem dedicado, mas que não tinha lágrimas nas suas orações. Ele pediu: “Senhor, quero o dom de lágrimas”.
Uma semana depois, ele estava numa reunião do conselho da sua igreja. A única coisa que conseguia dizer na reunião era: “Senhor, estou sentindo tanta angústia em favor da nossa igreja”. E disse o mesmo também aos outros diáconos presentes. De repente, começou a tremer por dentro, e não conseguiu mais ficar na sua cadeira. Caiu no chão e começou a chorar, e a clamar em agonia em favor da sua igreja. Os outros ficaram olhando, querendo saber o que estava acontecendo. Mas o Espírito Santo tomou conta dos seus corações também, e logo todos os diáconos estavam no chão, chorando diante de Deus em favor da igreja.
Temos de participar desta angústia do coração de Deus. Não podemos levar as cargas dele, se estivermos preocupados somente com as nossas. O Espírito Santo toma conta do coração e da mente, e logo se torna realidade que “não mais eu, mas Cristo” age em nós pela oração.
Isto não é nada natural. Este tipo de oração nunca acontecerá a menos que nossos corações sejam limpos, e a menos que nosso cativeiro tenha sido restaurado. Temos de estar diante dele como sacrifício vivo, apresentando a ele nossos corpos, nos dispondo como leitos de rio, para que ele ore através de nós. Nosso clamor é: “Senhor, usa-me e ora através de mim, até alcançar o alvo”. Este tipo de oração vai mudar o mundo! É algo de dimensão cósmica, e de efeitos espantosos. É Cristo orando em nós. Há um tremendo mistério e uma grandiosa majestade nisso. Que ministério nós temos!
“Buscai ao Senhor com Lágrimas”
A Bíblia foi escrita com lágrimas, e é às lágrimas que seus maiores tesouros se abrirão. “De todo o meu coração tenho te buscado” (Sl 119.10). Se você sair lá fora e olhar para o sol, e lágrimas não encherem seus olhos, você ficará cego. A pessoa que estuda a Bíblia, e já resolveu todos os impasses, freqüenta as melhores reuniões, e obtém verdades radiantes e brilhantes, contudo sem lágrimas, se tornará fariseu. Os sacerdotes cegos nem reconheceram Jesus quando esteve entre eles.
Nunca houve um avivamento enquanto a igreja não ficasse desesperada, enquanto não houvesse lágrimas. Estamos desesperados? A igreja está desesperada? Eu estou desesperado?
O Salmo 42 diz: “Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo…” Minha alma é como um deserto seco. Preciso de água. “Quando entrarei e verei a face de Deus?”
Depois continua: “As minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite…” Não são palavras de quem está entoando um doce cântico. É alguém que não consegue comer, que não consegue fazer nada mais de dia ou de noite. Ele se coloca diante de Deus e diz: “Deus, rasga os céus! Age, ó Deus!” Suas lágrimas são a única coisa que sua boca está provando. Está clamando com agonia. É isto que precisa acontecer no nosso meio e na igreja do Senhor antes que o avivamento possa realmente chegar – a menos que Deus resolva fazer algo novo (o que tem todo direito de fazer, se quiser).
Não vejo muita esperança que a igreja chegue facilmente a esse ponto. Joel 2 fala de uma assembléia solene, e diz: “Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor…” (v. 17). A palavra significa, na verdade, “uivar”, e é uma ordem, não uma sugestão. Era para ser feito continuamente, entre o pórtico e o altar, ou seja, entre o altar de oração e o pórtico, onde o povo ficava, intercedendo com oração e uivos.
Este é o anseio do Senhor, é o que pesa seu coração. Foi o que aconteceu no cenáculo, por dez dias antes do Pentecoste, cumprindo o que Joel havia ordenado, de tal forma que Pedro pudesse falar: “Isto é o que foi dito pelo profeta Joel” (Atos 2.16).
O Verdadeiro Clamor de Coração por Avivamento
Você gostaria de receber o dom de lágrimas? Eu creio que se pedirmos o dom de lágrimas ao Senhor, ele o dará a fim de podermos realmente clamar de coração por avivamento. Não existe nenhum clamor de coração por avivamento onde não há lágrimas.
Deus nos oferece: “Você permite que lhe dê meu coração?”
“Mas Senhor,” respondo, “é um coração quebrado!”
“Sim, e assim estão os corações de todos aqueles que verdadeiramente são meus. É através desses corações quebrantados e contritos que posso liberar meu Espírito, especialmente em intercessão à medida que a pessoa se coloca diante de mim no seu recanto de oração com a Bíblia aberta. Ela toma as promessas de Deus e faz intercessão de acordo com a vontade do Pai.” E então Deus Pai ouve, como ouviu em Êxodo: “Tenho ouvido o seu clamor… porque conheço os seus sofrimentos” (3.7).
Senhor, Restaura Nosso Cativeiro!
Somos muito duros e temos medo dos sentimentos. Ou em outras palavras, estamos em cativeiro. Estamos fechados no nosso egoísmo, e naquilo que outros podem pensar de nós. Não é uma questão de gostar de lágrimas, nem de pedir que o Senhor nos faça mais emotivos. Pelo contrário, é dizer: “Senhor, dá-me o privilégio de entrar nas orações da própria divindade. Permite que eu entre nesta dimensão de oração. Torna-me a ti, ó Senhor, e serei restaurado. Restaura meu cativeiro!”
Ah, que Deus derramasse seu Espírito de graça e súplicas, como diz em Zacarias 12.10! Mas depois diz que prantearão e chorarão.
Estamos dispostos a ir além daquilo que já experimentamos? Estamos dispostos a cair de rosto em terra e realmente orar? Jesus “adiantando-se um pouco, prostrou-se com o rosto em terra e orou…”(Mt 26.39). “E, posto em agonia, orava mais intensamente…” (Lc 22.44). É isso que Deus quer nos ensinar. Não importa o quanto você já aprendeu ou o que já sabe sobre oração. É o que ele quer ensinar agora, nesta hora da igreja, nesta hora da história, que importa.
Quando fizermos assim, torrentes passarão por nossa vida pessoal e por nossas famílias, e limparão tudo, limparão nossas igrejas, limparão nossa terra. Será algo espantoso. Mas não acontecerá sem oração.
Você permitirá que o Senhor o quebrante? Ele ouvirá o clamor daqueles que o invocam de dia e de noite. “No dia em que eu clamei, atendeste-me; alentaste-me, fortalecendo a minha alma”(Sl 138.3).
Al Whittinghill ministra em conferências e campanhas evangelísticas através do mundo com o grupo “Ambassadors for Christ, International (Embaixadores por Cristo, Internacional), com sede em Geórgia nos Estados Unidos