Precisamos testar a nós mesmos, imparcialmente, para saber se estamos entre o número daqueles que amam a Deus. Para que possamos nos avaliar – uma vez que o nosso amor será melhor visto por seus frutos –, eu apresentarei sinais, ou frutos, do amor a Deus, e compete a cada um de nós averiguarmos cuidadosamente se qualquer destes frutos está crescendo em nosso jardim.
O primeiro fruto do amor é a meditação da mente em Deus. Aquele que está em amor tem sempre os seus pensamentos voltados para o objeto de sua afeição. Aquele que ama a Deus é arrebatado e transportado pela contemplação de Deus. “Quando acordo, ainda estou contigo” (Sl 139.18, ARC). Os pensamentos são como viajantes na mente. Os pensamentos de Davi seguiam a estrada celestial: “ainda estou contigo”. Deus é o tesouro, e onde está o tesouro, aí está o coração. Assim nós podemos testar o nosso amor a Deus. Em que se concentram os nossos pensamentos? Podemos nós dizer que somos arrebatados de deleite quando pensamos em Deus? Os nossos pensamentos têm asas? Estão eles elevados às alturas? Contemplamos nós Cristo e a glória? Oh, quão distantes estão de serem amantes de Deus aqueles que sequer raramente pensam em Deus! “Que não há Deus são todas as suas cogitações” (Sl 10.4). Um pecador empurra Deus para fora dos seus pensamentos. Ele nunca pensa em Deus, senão com horror, assim como o prisioneiro pensa acerca do juiz.
O próximo fruto do amor é o desejo pela comunhão. O amor deseja familiaridade e relacionamento. “A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo!” (Sl 84.2). O rei Davi, ao ser impedido de estar na casa de Deus, no tabernáculo, o emblema visível da Sua presença, suspira por Deus e, em um surto santo de desejo, clama pelo Deus vivo. Dois amantes estão constantemente conversando um com o outro. Se nós amamos a Deus, nós prezamos por Suas ordenanças, porque ali nós nos encontramos com Deus. Ele fala conosco em Sua Palavra, e nós falamos com Ele em oração. Assim examinemos o nosso amor a Deus. Desejamos nós a intimidade da comunhão com Deus? Amantes não podem estar muito distantes um do outro. Assim também o amor a Deus é dotado de uma afeição santa; aqueles que O amam não conseguem ficar longe Dele. Eles podem suportar a falta de qualquer coisa, exceto da presença de Deus. Eles podem viver sem saúde e sem amigos, eles podem estar felizes sem uma mesa farta, mas eles não podem estar felizes sem Deus. “Não escondas de mim a tua face, para que eu não seja semelhante aos que descem à cova” (Sl 143.7). Os amantes têm os seus desmaios. Davi estava pronto para desfalecer e morrer, caso não tivesse sequer uma visão de Deus. Aqueles que amam a Deus não podem estar satisfeitos em ter ordenanças, a menos que possam desfrutar de Deus nelas; o contrário seria para eles como lamber o vidro, e não o mel.
O que nós devemos dizer àqueles que passam suas vidas inteiras sem Deus? Eles pensam que Deus pode ser dispensado: reclamam que necessitam de saúde e negócios, mas não que necessitam de Deus! Homens ímpios não têm conhecimento de Deus; e como podem amar Aquele a quem sequer conhecem? Não somente isso, mas, o que é pior, eles não desejam conhecê-Lo. “E são estes os que disseram a Deus: Retira-te de nós! Não desejamos conhecer os teus caminhos” (Jó 21.14). Os pecadores evitam o conhecimento de Deus, eles consideram a Sua presença como um fardo; e são esses amantes de Deus? Podemos afirmar que ama o seu marido aquela mulher que não pode suportar estar na presença dele?
Um outro fruto do amor é a tristeza. Onde há amor a Deus, há um lamentar-se pelos nossos pecados de dureza contra Ele. Um filho que ama o seu pai não pode senão chorar por ofendê-lo. O coração que arde em amor derrama-se em lágrimas. Oh! Como eu poderia abusar do amor de um Salvador tão precioso?! Não sofreu o bastante o meu Senhor sobre a cruz, para que eu O faça sofrer ainda mais? Devo eu dar-Lhe mais fel e vinagre para beber? Quão desleal e insincero eu tenho sido! O quanto tenho eu entristecido o Seu Espírito, negligenciado os Seus mandamentos reais, desprezado o Seu sangue! Isso abre uma veia de tristeza piedosa e faz o coração bater novamente. “Então, Pedro […] saindo dali, chorou amargamente” (Mt 26.75). Quando Pedro pensou em como Cristo afetuosamente o amava; em como ele havia sido levado até o monte da transfiguração, onde Cristo lhe mostrara a glória do céu em uma visão; pensar que ele havia negado a Cristo depois de ter recebido Dele tão notável amor, isso partiu o seu coração de tristeza; ele saiu e chorou amargamente.
Assim testemos o nosso amor a Deus. Nós vertemos as lágrimas da tristeza piedosa? Nós lamentamos a nossa dureza contra Deus, o nosso abuso de Sua misericórdia, a fato de não multiplicarmos os nossos talentos? Quão distantes estão de amar a Deus aqueles que pecam diariamente sem que isso golpeie o seu coração! Eles possuem um mar de pecados, e sequer uma gota de tristeza. Eles estão tão distantes de se preocuparem com isso, que fazem piada de seus pecados. “Quando tu fazes mal, então, andas saltando de prazer” (Jr 11.15, ARC). Ó miseráveis! Cristo sangrou pelo pecado, e vocês riem dele? Esses tais estão distantes do amor a Deus. Acaso ama o seu amigo aquele que ama causar-lhe dano?
Por Thomas Watson. Original: A Divine Cordial By Thomas Watson